quarta-feira, 27 de abril de 2011

Parte final - O medo sem meio e com meio


O medo do silêncio e de falar um pouco mais...

O silêncio é uma prece, mas quem disse que falar também não é?
Calamos e falamos no momento oportuno, mas quem dita este momento não somos nós. A vida diz o quanto a boca deve calar e o quanto deve falar.
Aquele que ouve merece e necessita ouvir e aquele que fala também tem o seu merecimento em falar.
A boca da vez emite o som no momento ideal para o ouvinte certo.
Tudo é pronunciado com perfeição.
É a melodia do Universo, ele está harmônico e em seu mais perfeito equilíbrio, pois é a própria Perfeição que dá o tom.
O meio vive sem medo de silenciar ou falar. Vive o que vier.


O medo da dor e da alegria ser passageira...

Quando a dor chega imploramos clemência a Deus. Se ela insiste vamos atrás dos remédios milagrosos. Depois dos médicos, das salas de cirurgia, dos antibióticos...
Tem as dores do coração que nos desprendem “rios” de lágrimas e dias e mais dias de fossa. Oh Deus, o que será de mim sem aquela pessoa?
Muitos apelam a Deus novamente, outros lançam recursos de “amarração de boca de sapo”, “cuecas vestidas em uma âncora e jogadas ao mar” e tantas outras coisas. Isso tudo pra que seja feita a vontade de cada um.
E somos caras-de-pau e enchemos a boca ao dizer a Deus em nossas preces“...que seja feita a Vossa Vontade...” Na verdade o que sempre dizemos a Deus é ...que seja feita a Vossa vontade, desde que a minha vontade seja atendida, ou seja, a Sua Vontade(de Deus) tem que ser igual a MINHA vontade.
E com a alegria é a mesma coisa, não queremos que ela vá embora nunca.
É a NOSSA vontade.
Perceba o quanto sofremos se a nossa vontade não for atendida.
A dor de um único dente passa a ser a dor da cabeça inteira, depois até a pinta da sola do pé começa a doer e a dor começa a crescer tanto que atinge o ser que estiver ao nosso lado. Daqui um tempo a dor toma proporções tão grandes que onde quer que se vá, ela caminha junto...atinge a operadora do caixa do supermercado, o motorista de ônibus e de táxi, os passageiros dos trens, os velhinhos na fila da pensão, as crianças na sala de aula, a diarista, os professores, os bancários, os empresários, os religiosos...a dor que começou no dente e de tantas lamentações criou um campo energético denso que foi levado pro planeta todo...até nossas plantas murcham. E é bem capaz da gente achar que é o vizinho que jogou sal grosso e matou a pobrezinha da nossa plantinha.
E de repente estamos todos no meio de uma guerra, nos matando uns aos outros...
E tudo começou com um pequeno dentinho...
O meio sem medo da dor e da alegria partir antes de chegar é viver o momento, se for pra chorar, chore. Se for pra sorrir, sorria.
Viva apenas no presente para caminhar no meio.


O medo da crítica e do elogio não chegar...

Temos nossas convicções e todas as opiniões que divergem daquilo que acreditamos ser certo e verdadeiro, ficam no campo dos inimigos.
A trincheira toma corpo.
E tornamos as pessoas nossas inimigas simplesmente porque elas têm pontos de vista diferentes dos nossos?
Se você gosta do azul e a outra pessoa do rosa, pronto, além de não pensar como você ainda corre o risco dela ser marica, se for alguém do sexo masculino.
E daí, se for ou não for, porque julgamos o outro por aquilo que ele está? Se nem o que estamos sabemos ao certo, imagine interpretar o que somos?
Se todos nós gostássemos do rosa, o mundo seria inteiramente cor-de-rosa...carros, computadores, roupas, sapatos, cor de cabelos, maquiagem, filmes, livros...não haveria outra cor.
E daí todos se amariam?
Será?
O seu rosa é mais escuro que o meu. E o seu é muito mais opaco...infinitas discussões ressurgiriam.
A questão não é gostar ou desgostar, esse jogo já sabemos no que dá.
O ponto é...se for azul ou rosa, não importa...é uma cor.
O que vier primeiro, veio.
Mas para isso, precisamos nos “despir” da fila de julgamentos que fazem parte de nossas convicções, pois se assim não o fizermos, um homem não conseguirá usar algo cor-de-rosa.
Uma coisa está relacionada a outra.
Se a torre inteira não despencar, continuarão vendendo o rosa para meninas e o azul para meninos.
E pode ser que mesmo você tendo coragem de usar o rosa, você ainda fique esperando um elogio e se ele não chegar, não chegou.
E no meio use se usar, faça o que fizer, seja o que for, é vida acontecendo.

E ainda temos...
Medo de perder o que amamos e de ganhar o que não merecemos.
Medo do desânimo e do prazer não satisfazer.
Medo de não amar e de se apegar demais.
Medo do escuro e da claridade cegar os olhos.
Medo da falta de fé e de ser beato sem trégua.
Medo do bicho-papão e do anjo ter asas grandes demais.
Medo da floresta cheia de sons e do descampado entoando o vento que sopra.
Medo da solidão e de tanto escolher, sente medo de estar mal acompanhado.
Medo da fome e de indigestão por comer um tanto a mais.
Medo do desemprego e do chefe cismar com a nossa cara.
Medo do frio e de sentir calor em demasia.
Medo da multidão incontrolável e de se sentir só.
Medo do desconhecido e daquilo que achamos conhecer demais.
Medo do que nos é roubado e do presente que chega muito de repente.
Medo das armas e de levantar um lenço branco na fronteira dos médios orientes.
Medo do bandido e da mocinha não ficar com o mocinho.
Medo de a seca secar tudo e da chuva não parar mais.
Medo do diabo e de deus não ouvir nossas preces...
...
Medo do nada e de tudo...
E entre eles há o meio...
Onde a vida acontece neste instante...
E agora, somente agora a vida é...
A vida é aquilo que é...
Não adianta brigarmos, chorarmos, espernearmos, arrancarmos todos os fios dos nossos cabelos...
A vida continuará sendo o que é e neste último caso se assim for...a vida te dirá que você está careca.
Seja por suas mãos ou pela dos outros, a vida será o que é...
A vida não tem medo e nem se choca com nada.
Ela simplesmente é o que é.
Então por que ter medo da vida, da morte, do nada e de tudo?
Tudo é o que é.
Nada é o que é.
A morte é o que é.
A vida é o que é.
Esteja aqui e agora para viver o que se é...

Fica em paz